Blog destinado a discutir comportamento, espiritualidade, religião, artes, moda, oportunidades, ciências, esportes, política, cidadania, poesia, enfim, a vida. Este Blog vai virar livro.
quarta-feira, 30 de março de 2011
sábado, 26 de março de 2011
quarta-feira, 9 de março de 2011
"Passeio Socrático"
"Se você não quer ser esquecido quando morrer, escreva coisas que vale a pena ler ou faça coisas que vale a pena escrever."
( Benjamin Franklin )
( Benjamin Franklin )
________________________________________
Ao visitar em agosto a admirável obra social de Carlinhos Brown, no Candeal, em Salvador, ouvi-o contar que na infância, vivida ali na
pobreza, ele não conheceu a fome. Havia sempre um pouco de farinha, feijão, frutas e hortaliças.
"Quem trouxe a fome foi a geladeira", disse.
O eletrodoméstico impôs à família a necessidade do supérfluo:
refrigerantes, sorvetes etc. A economia de mercado, centrada no lucro e
não nos direitos da população, nos submete ao consumo de símbolos. O valor
simbólico da mercadoria figura acima de sua utilidade. Assim, a fome a que
se refere Carlinhos Brown é inelutavelmente insaciável.
É próprio do humano - e nisso também nos diferenciamos dos animais -,
manipular o alimento que ingere. A refeição exige preparo, criatividade, e
a cozinha é laboratório culinário, como a mesa é missa, no sentido
litúrgico.
A ingestão de alimentos por um gato ou cachorro é um atavismo desprovido de arte.
Entre humanos, comer exige um mínimo de cerimônia: sentar à mesa coberta pela toalha,
usar lindos talheres, apresentar os pratos com esmero e,
sobretudo, desfrutar da companhia de outros comensais.
Trata-se de um ritual que possui rubricas indeléveis. Parece-me desumano
comer de pé ou sozinho, retirando o alimento diretamente da panela.
Marx já havia se dado conta do peso da geladeira.
Nos "Manuscritos econômicos e filosóficos" (1844), ele constata que "o
valor que cada um possui aos olhos do outro é o valor de seus respectivos
bens. Portanto, em si o homem não tem valor para nós".
O capitalismo de tal modo desumaniza que já não somos apenas consumidores,
somos também consumidos. As mercadorias que me revestem e os bens
simbólicos que me cercam é que determinam meu valor social.
Desprovido ou despojado deles, perco o valor, condenado ao mundo ignaro da
pobreza e à cultura da exclusão.
Para o povo maori da Nova Zelândia, cada coisa, e não apenas as pessoas,
tem alma. Em comunidades tradicionais de África também se encontra essa
interação matéria-espírito. Ora, se dizem a nós que um aborígine cultua uma
árvore ou pedra, um totem ou ave, com certeza faremos um olhar de desdém.
Mas quantos de nós não cultuam o próprio carro, um vinho guardado na adega,
uma jóia?
Assim como um objeto se associa ao seu dono nas comunidades tribais, na
sociedade de consumo o mesmo ocorre sob a sofisticada égide da grife.
Não se compra um vestido, compra-se um Gaultier; não se adquire um carro, e
sim uma Ferrari; não se bebe um vinho, mas um Château Margaux. A roupa pode
ser a mais horrorosa possível, porém se traz a assinatura de um famoso
estilista; a gata borralheira transforma-se em Cinderela...
Somos consumidos pelas mercadorias na medida em que essa cultura neoliberal
nos faz acreditar que delas emana uma energia que nos cobre como uma bendita
unção, a de que pertencemos ao mundo dos eleitos, dos ricos, do poder. Pois
a avassaladora indústria do consumismo imprime aos objetos uma aura, um
espírito, que nos transfigura quando neles tocamos. E se somos privados
desse privilégio, o sentimento de exclusão causa frustração, depressão,
infelicidade.
Não importa que a pessoa seja imbecil. Revestida de objetos cobiçados, é
alçada ao altar dos incensados pela inveja alheia. Ela se torna também
objeto, confundida com seus apetrechos e tudo mais que carrega nela, mas não
é ela: bens, cifrões, cargos etc.
Comércio deriva de "com mercê", com troca. Hoje as relações de consumo são
desprovidas de troca, impessoais, não mais mediatizadas pelas pessoas.
Outrora, a quitanda, o boteco, a mercearia, criavam vínculos entre o
vendedor e o comprador, e também constituíam o espaço das relações de
vizinhança, como ainda ocorre na feira.
Agora o supermercado suprime a presença humana. Lá está a gôndola abarrotada
de produtos sedutoramente embalados. Ali, a frustração da falta de convívio
é compensada pelo consumo supérfluo.
"Nada poderia ser maior que a sedução" -diz Jean Baudrillard- "nem mesmo a
ordem que a destrói".
E a sedução ganha seu supremo canal na compra pela internet. Sem sair da
cadeira o consumidor faz chegar à sua casa todos os produtos que deseja.
Vou com freqüência a livrarias de shoppings. Ao passar diante das lojas e
contemplar os veneráveis objetos de consumo, vendedores se acercam indagando
se necessito algo.
"Não, obrigado. Estou apenas fazendo um passeio socrático", respondo.
Olham-me intrigados.
Então explico:
Sócrates era um filósofo grego que viveu séculos antes de Cristo.
Também gostava de passear pelas ruas comerciais de Atenas.
E, assediado por vendedores como vocês, respondia:
"Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz".
*Frei Betto*
________________________________
Carlinhos Brown Social:
Carlinhos Brown teve uma infância pobre em recursos financeiros, no bairro do Candeal Pequeno, em Salvador. Mas a música sempre o aproximou das questões sociais. O músico criou vários projetos, programas e grupos musicais que modificam a vida de crianças e jovens carentes de Salvador. Através das mãos de Brown, já foram formados mais de 5.000 percussionistas que hoje se destacam tocando pelo Brasil e pelo mundo. Alguns em carreira solo, outros acompanhando grandes nomes da música mundial, como o grupo americano Stomp.
No Candeal, Carlinhos implementou o projeto “Tá Rebocado”, de urbanização e saneamento do bairro, que recebeu, em 2002, o Certificado de Melhores Práticas do Programa de Assentamentos Humanos das Nações Unidas/UN-Habitat. Em 1994, foi fundada, por Carlinhos Brown, a Associação Pracatum Ação Social. O lugar é um centro de referência em cursos de formação profissional em moda, costura, reciclagem, idiomas e oficinas de capoeira, dança e de temáticas ligadas à cultura afro-brasileira, além de uma escola infantil. Os projetos são parceiros de instituições importantes mundialmente, como os Ministérios da Educação e do Trabalho e a UNESCO.
Pela sua trajetória de engajamento com as questões sociais, Carlinhos Brown já recebeu diversos prêmios. Dentre eles, destaca-se o mais recente, recebido na Europa. Em 2008, Brown foi agraciado com o “12 meses, 12 causas”, prêmio promovido pelo Telecinco, mais importante canal de TV espanhol.
Ao visitar em agosto a admirável obra social de Carlinhos Brown, no Candeal, em Salvador, ouvi-o contar que na infância, vivida ali na
pobreza, ele não conheceu a fome. Havia sempre um pouco de farinha, feijão, frutas e hortaliças.
"Quem trouxe a fome foi a geladeira", disse.
O eletrodoméstico impôs à família a necessidade do supérfluo:
refrigerantes, sorvetes etc. A economia de mercado, centrada no lucro e
não nos direitos da população, nos submete ao consumo de símbolos. O valor
simbólico da mercadoria figura acima de sua utilidade. Assim, a fome a que
se refere Carlinhos Brown é inelutavelmente insaciável.
É próprio do humano - e nisso também nos diferenciamos dos animais -,
manipular o alimento que ingere. A refeição exige preparo, criatividade, e
a cozinha é laboratório culinário, como a mesa é missa, no sentido
litúrgico.
A ingestão de alimentos por um gato ou cachorro é um atavismo desprovido de arte.
Entre humanos, comer exige um mínimo de cerimônia: sentar à mesa coberta pela toalha,
usar lindos talheres, apresentar os pratos com esmero e,
sobretudo, desfrutar da companhia de outros comensais.
Trata-se de um ritual que possui rubricas indeléveis. Parece-me desumano
comer de pé ou sozinho, retirando o alimento diretamente da panela.
Marx já havia se dado conta do peso da geladeira.
Nos "Manuscritos econômicos e filosóficos" (1844), ele constata que "o
valor que cada um possui aos olhos do outro é o valor de seus respectivos
bens. Portanto, em si o homem não tem valor para nós".
O capitalismo de tal modo desumaniza que já não somos apenas consumidores,
somos também consumidos. As mercadorias que me revestem e os bens
simbólicos que me cercam é que determinam meu valor social.
Desprovido ou despojado deles, perco o valor, condenado ao mundo ignaro da
pobreza e à cultura da exclusão.
Para o povo maori da Nova Zelândia, cada coisa, e não apenas as pessoas,
tem alma. Em comunidades tradicionais de África também se encontra essa
interação matéria-espírito. Ora, se dizem a nós que um aborígine cultua uma
árvore ou pedra, um totem ou ave, com certeza faremos um olhar de desdém.
Mas quantos de nós não cultuam o próprio carro, um vinho guardado na adega,
uma jóia?
Assim como um objeto se associa ao seu dono nas comunidades tribais, na
sociedade de consumo o mesmo ocorre sob a sofisticada égide da grife.
Não se compra um vestido, compra-se um Gaultier; não se adquire um carro, e
sim uma Ferrari; não se bebe um vinho, mas um Château Margaux. A roupa pode
ser a mais horrorosa possível, porém se traz a assinatura de um famoso
estilista; a gata borralheira transforma-se em Cinderela...
Somos consumidos pelas mercadorias na medida em que essa cultura neoliberal
nos faz acreditar que delas emana uma energia que nos cobre como uma bendita
unção, a de que pertencemos ao mundo dos eleitos, dos ricos, do poder. Pois
a avassaladora indústria do consumismo imprime aos objetos uma aura, um
espírito, que nos transfigura quando neles tocamos. E se somos privados
desse privilégio, o sentimento de exclusão causa frustração, depressão,
infelicidade.
Não importa que a pessoa seja imbecil. Revestida de objetos cobiçados, é
alçada ao altar dos incensados pela inveja alheia. Ela se torna também
objeto, confundida com seus apetrechos e tudo mais que carrega nela, mas não
é ela: bens, cifrões, cargos etc.
Comércio deriva de "com mercê", com troca. Hoje as relações de consumo são
desprovidas de troca, impessoais, não mais mediatizadas pelas pessoas.
Outrora, a quitanda, o boteco, a mercearia, criavam vínculos entre o
vendedor e o comprador, e também constituíam o espaço das relações de
vizinhança, como ainda ocorre na feira.
Agora o supermercado suprime a presença humana. Lá está a gôndola abarrotada
de produtos sedutoramente embalados. Ali, a frustração da falta de convívio
é compensada pelo consumo supérfluo.
"Nada poderia ser maior que a sedução" -diz Jean Baudrillard- "nem mesmo a
ordem que a destrói".
E a sedução ganha seu supremo canal na compra pela internet. Sem sair da
cadeira o consumidor faz chegar à sua casa todos os produtos que deseja.
Vou com freqüência a livrarias de shoppings. Ao passar diante das lojas e
contemplar os veneráveis objetos de consumo, vendedores se acercam indagando
se necessito algo.
"Não, obrigado. Estou apenas fazendo um passeio socrático", respondo.
Olham-me intrigados.
Então explico:
Sócrates era um filósofo grego que viveu séculos antes de Cristo.
Também gostava de passear pelas ruas comerciais de Atenas.
E, assediado por vendedores como vocês, respondia:
"Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz".
*Frei Betto*
________________________________
Carlinhos Brown Social:
Carlinhos Brown teve uma infância pobre em recursos financeiros, no bairro do Candeal Pequeno, em Salvador. Mas a música sempre o aproximou das questões sociais. O músico criou vários projetos, programas e grupos musicais que modificam a vida de crianças e jovens carentes de Salvador. Através das mãos de Brown, já foram formados mais de 5.000 percussionistas que hoje se destacam tocando pelo Brasil e pelo mundo. Alguns em carreira solo, outros acompanhando grandes nomes da música mundial, como o grupo americano Stomp.
No Candeal, Carlinhos implementou o projeto “Tá Rebocado”, de urbanização e saneamento do bairro, que recebeu, em 2002, o Certificado de Melhores Práticas do Programa de Assentamentos Humanos das Nações Unidas/UN-Habitat. Em 1994, foi fundada, por Carlinhos Brown, a Associação Pracatum Ação Social. O lugar é um centro de referência em cursos de formação profissional em moda, costura, reciclagem, idiomas e oficinas de capoeira, dança e de temáticas ligadas à cultura afro-brasileira, além de uma escola infantil. Os projetos são parceiros de instituições importantes mundialmente, como os Ministérios da Educação e do Trabalho e a UNESCO.
Pela sua trajetória de engajamento com as questões sociais, Carlinhos Brown já recebeu diversos prêmios. Dentre eles, destaca-se o mais recente, recebido na Europa. Em 2008, Brown foi agraciado com o “12 meses, 12 causas”, prêmio promovido pelo Telecinco, mais importante canal de TV espanhol.
sábado, 5 de março de 2011
Leia trechos de "Os Sertões"
A TERRA
"Ao sobrevir das chuvas, a terra, como vimos, transfigura-se em mutações fantásticas, contrastando com a desolação anterior.
Os vales secos fazem-se rios. Insulam-se os cômoros escalvados, repentinamente verdejantes. A vegetação recama de flores, cobrindo-os, os grotões escancelados, e disfarça a dureza das barrancas, e arredonda em colinas os acervos de blocos disjungidos -de sorte que as chapadas grandes, entremeadas de convales, se ligam em curvas mais suaves aos tabuleiros altos. Cai a temperatura. Com o desaparecer das soalheiras anula-se a secura anormal dos ares. Novos tons na paisagem: a transparência do espaço salienta as linhas mais ligeiras, em todas as variantes da forma e da cor.
Dilatam-se os horizontes. O firmamento, sem o azul carregado dos desertos, alteia-se, mais profundo, ante o expandir revivescente da terra.
E o sertão é um vale fértil. É um pomar vastíssimo, sem dono.
Depois tudo isto se acaba. Voltam os dias torturantes; a atmosfera asfixiadora; o empedramento do solo; a nudez da flora; e nas ocasiões em que os estios se ligam sem a intermitência das chuvas -o espasmo assombrador da seca."
O HOMEM
"O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral.
A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o desempeno, a estrutura corretíssima das organizações atléticas.
É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo, reflete no aspecto a fealdade típica dos fracos. O andar sem firmeza, sem aprumo, quase gingante e sinuoso, aparenta a translação de membros desarticulados. Agrava-o a postura normalmente abatida, num manifestar de displicência que lhe dá um caráter de humildade deprimente. A pé, quando parado, recosta-se invariavelmente ao primeiro umbral ou parede que encontra; a cavalo, se sofreia o animal para trocar duas palavras com um conhecido, cai logo sobre um dos estribos, descansando sobre a espenda da sela. Caminhando, mesmo a passo rápido, não traça trajetória retilínea e firme. Avança celeremente, num bambolear característico, de que parecem ser o traço geométrico os meandros das trilhas sertanejas. (...)
É o homem permanentemente fatigado."
"O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral.
A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o desempeno, a estrutura corretíssima das organizações atléticas.
É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo, reflete no aspecto a fealdade típica dos fracos. O andar sem firmeza, sem aprumo, quase gingante e sinuoso, aparenta a translação de membros desarticulados. Agrava-o a postura normalmente abatida, num manifestar de displicência que lhe dá um caráter de humildade deprimente. A pé, quando parado, recosta-se invariavelmente ao primeiro umbral ou parede que encontra; a cavalo, se sofreia o animal para trocar duas palavras com um conhecido, cai logo sobre um dos estribos, descansando sobre a espenda da sela. Caminhando, mesmo a passo rápido, não traça trajetória retilínea e firme. Avança celeremente, num bambolear característico, de que parecem ser o traço geométrico os meandros das trilhas sertanejas. (...)
É o homem permanentemente fatigado."
A LUTA
"Concluídas as pesquisas nos arredores, e recolhidas as armas e munições de guerra, os jagunços reuniram os cadáveres que jaziam esparsos em vários pontos. Decapitaram-nos. Queimaram os corpos. Alinharam depois, nas duas bordas da estrada, as cabeças, regularmente espaçadas, fronteando-se, faces volvidas para o caminho. Por cima, nos arbustos marginais mais altos, dependuraram os restos de fardas, calças e dólmãs multicores, selins, cinturões, quepes de listras rubras, capotes, mantas, cantis e mochilas...
A caatinga mirrada e nua, apareceu repentinamente desabrochando numa florescência extravagantemente colorida no vermelho forte das divisas, no azul desmaiado dos dólmãs e nos brilhos vivos das chapas dos talins e estribos oscilantes...
Um pormenor doloroso completou essa encenação cruel: a uma banda avultava, empalado, erguido num galho seco, de angico, o corpo do coronel Tamarindo.
Era assombroso... Como um manequim terrivelmente lúgubre, o cadáver desaprumado, braços e pernas pendidos, oscilando à feição do vento no galho flexível e vergado, aparecia nos ermos feito uma visão demoníaca."
Trechos extraídos do livro "Os Sertões".
"Concluídas as pesquisas nos arredores, e recolhidas as armas e munições de guerra, os jagunços reuniram os cadáveres que jaziam esparsos em vários pontos. Decapitaram-nos. Queimaram os corpos. Alinharam depois, nas duas bordas da estrada, as cabeças, regularmente espaçadas, fronteando-se, faces volvidas para o caminho. Por cima, nos arbustos marginais mais altos, dependuraram os restos de fardas, calças e dólmãs multicores, selins, cinturões, quepes de listras rubras, capotes, mantas, cantis e mochilas...
A caatinga mirrada e nua, apareceu repentinamente desabrochando numa florescência extravagantemente colorida no vermelho forte das divisas, no azul desmaiado dos dólmãs e nos brilhos vivos das chapas dos talins e estribos oscilantes...
Um pormenor doloroso completou essa encenação cruel: a uma banda avultava, empalado, erguido num galho seco, de angico, o corpo do coronel Tamarindo.
Era assombroso... Como um manequim terrivelmente lúgubre, o cadáver desaprumado, braços e pernas pendidos, oscilando à feição do vento no galho flexível e vergado, aparecia nos ermos feito uma visão demoníaca."
Trechos extraídos do livro "Os Sertões".
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